Artigo: Mais uma safra chega ao fim

Estamos encerrando as atividades da colheita de mais uma safra da uva. A velha prática das indústrias de negociar a produção sem definição de preço, infelizmente mais uma vez se repete.

Os preços praticados nessa safra ficaram abaixo do esperado pelos produtores, tendo em vista que na safra 2015/2016 tivemos uma quebra significativa na produção.

O preço mínimo estabelecido pelo governo infelizmente ainda permanece em centavos. É um valor irrisório e sequer cobre o custo de produção. Não estimula a produção e muito menos incentiva os jovens a permanecer na atividade. Em consequência da baixa remuneração o cenário é de desestímulo, abandono e consequente decadência dos parreirais e o envelhecimento do meio rural. A falta de renda, a insegurança e a indefinição em relação ao futuro, são fatores que contribuem para a exclusão cada vez maior do jovem do meio rural.

O único prejudicado com isso é o produtor, pois sem renda não existe atividade que se sustenta por muito tempo e muito menos vida digna para as famílias.

Os atuais dados de comercialização e as estatísticas das vendas, apontam que os estoques de vinhos e derivados são os mais baixos dos últimos anos. Além do estoque baixo, o preço do vinho, sucos e espumantes teve aumento que ultrapassou qualquer índice econômico. A previsão de que teríamos uma safra normal se concretizou e só não tivemos mais qualidade, pois ocorreram vários dias com chuva durante a colheita, fato esse que altera o teor de açúcar da fruta. Esses argumentos evidenciam que a uva pode e deve ser paga mais do que o preço mínimo, sob pena de num curto espaço de tempo as indústrias não terem mais matéria prima para suprir suas necessidades.

O jogo de interesses em relação ao preço e o prazo de pagamento provoca indignação, incertezas e insegurança entre os produtores.

Eles trabalham, investem e se dedicam junto com suas famílias o ano inteiro de sol a sol no cultivo da uva para seu sustento. A indústria não sobrevive e não tem sentido de existir sem a matéria prima. Se não existir produtor, não existe uva e sem uva a Indústria não tem sentido de existir.

Qual o produto primário que é adquirido, processado sem que o fornecedor saiba quanto e quando receberá. E que é o próprio produtor quem financia a compra e tem que esperar meses ou até anos para receber?

A perdurar essa situação de desestímulo ao produtor de uvas, o futuro será a decadência cada vez mais acentuada da produção e o abandono dessa centenária atividade que foi a base da sobrevivência de milhares de famílias.

Que haja mais clareza, transparência, justiça e respeito ao produtor e menos ganancia.

 

Jeferson Vanzetto de Carvalho

Técnico em Agropecuária